sábado, 31 de janeiro de 2009

O lugar de Ofélia


Ofélia observava. Observava as pessoas, como sempre fez. E de tanto observar ela chegou a uma conclusão. Esse é o papel dela. Ver as histórias alheias, escrever histórias. Não se sente como fazendo parte delas. Se sente como um poeta solitário, frustrado. Os poetas românticos, aqueles que morriam de tuberculose.
Chateou-se. Apoiou os cotovelos no joelho. Ela pertencia a lugar algum. Ninguém jamais poderia entender uma pessoa tão esquisita. Ninguém jamais poderia acolher uma pessoa tão esquisita. Ela definitivamente pertencia a lugar algum. Se achava diferente.
No seu desespero de querer se sentir acolhida se apaixonava por toda mulher que lhe desse um pouco mais de atenção, como Joel Barish. Imaginava os lábios delas lhe proferindo palavras românticas, seus dedos delicados entre os seus.
Não era Will, definitivamente. Will apenas lhe ajudou, mas ela não queria os lábios dele lhe proferindo palavras românticas. Não queria seus dedos grosseiros pegando em sua mão.
Tão pouco queria Ofélia junto de si uma mulher que não fizesse sentido. Ofélia queria a famosa 'sua metade'. Queria alguém como ela. Queria alguém que se sentisse deslocada como ela, a quem ela pudesse acolher de volta. Queria alguém que lesse seus pensamentos só de olhar nos seus olhos. Queria alguém pra ela ligar à noite, só pra ouvir a voz. Queria cabelos delicados no seu colo, e poder acariciar o rosto dela com a ponta dos dedos. Queria ouvir uma voz feminina e doce chamando seu nome.
Ofélia queria se apaixonar pela mulher que seria perfeita pra ela. E só para ela.
Mas Ofélia não conseguiria isso. Ela pertence a lugar algum.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Liberdade


Ofélia dançava. Dançava apesar de ser completamente desengonçada. Dançava na calçada molhada de chuva, diante dos transeuntes. Seus pés relavam no chão e a todo tempo, ela sentia que ia cair. Mas não se importaria com um tombo, não se importaria com nada. Ela estava livre.
Perdida, mas livre.
Podia seguir, sapateando (mal) sobre as poças qualquer caminho.
Tinha tantos! E cada caminho abria outros.
Sabia que poderia resgatar pessoas do passado, se elas quisessem tomar sua mão. Ela tentaria de novo. Afinal, por que não? Se a fazia feliz.
Lembrou-se, ao afundar o pé em uma poça e sentir a água encharcar sua meia, de Will. Das mãos dele ao redor de sua cintura, da água da chuva escorrendo por seu cabelo e do beijo. Foi legal. Foi bonito.
Mas só. Talvez fosse melhor seguir por um caminho totalmente diferente. Talvez fosse melhor se infiltrar num universo totalmente novo. Ele viria? Ela queria ser capaz de entrar nessa dimensão como se fosse um espelho, atravessando-o como se fosse apenas água.