segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

300


'THIS IS SPARTA!'. Foi o que Ofélia bradou a plenos pulmões ao puxar a espada sem fio de corte e apontá-la pro pequeno yorkshire. Ele latiu. Ela jogou a espada no chão, se jogou naquela cama que não era sua e riu. Riu muito.
Depois, após encarar a parede, com o riso ainda no estômago, se sentindo uma criança, uma nuvem negra passou pelos seus olhos. Sua expressão passou de infantil e leve para madura e sóbria. E isso não é bom. Não é bom quase em momento algum. Mas Ofélia vivia assim. Sóbria. Séria. Cinza.
Levantou-se da cama, aprumou-se, despediu-se. Colocou os fones no ouvido e saiu pela rua, naquele seu jeito de andar engraçado. Pensava. Pensava. Pensava. Passou por uma senhora, ao lado de um sebo que tinha um cheiro delicioso de páginas antigas. A senhora sorriu, amigável. Ofélia sorriu também, com uma sensação de camaradagem. Ah, pra que ser tão sóbrio? Will era sóbrio demais às vezes. Dramático em sua paixão exagerada por ela. Pobre Will. Ela só conseguia dizer não. Sentia muito por isso. Não havia paixão. Apenas... Camaradagem. E assim seria. Ofélia levaria sua vida. Fazendo malabarismo com as bolinhas coloridas que caíssem em suas mãos. Tentando se equilibrar. As pessoas naquela rua pareciam excepcionalmente simpáticas e ela não via a hora de virar a esquina. Ver o que lhe esperava ali. Talvez um teatro, antigo, de poltronas de veludo vermelho, talvez um filhotinho de gato preto que ela pudesse acomodar entre seus braços. Talvez uma garota, de sorriso doce e olhos maliciosos, esperando pra ser tomada, puxada pelas mãos de Ofélia, assim, Ofélia a acomodaria entre seus braços também.
Ofélia começou a cantarolar. É. A vida é boa. E Ofélia sacudiria mais espadas para cãezinhos, tomada por acessos de riso.

3 comentários:

photo phreak disse...

meu sonho é saber desenhar, mas infelizmente não nasci com esse dom. admiro pessoas que conseguem fazer mais que um borrão preto e rabiscos sem sentido no papel.

e ler esse post me fez pensar que não se fazem mais teatros nem garotas como antigamente... (suspiros)



a propósito, personagens de Shakespeare sempre caem bem como pseudônimo em qualquer diário/desabafo/romance/tragédia.

Eu Sou de Falar disse...

Eu tb queria dobrar a esquina e encontrar uma guria assim.. como a dos desejos de Ofélia.


um beijo!

Eu Sou de Falar disse...

Eu tb queria dobrar a esquina e encontrar uma guria assim.. como a dos desejos de Ofélia.


um beijo!